GUIÃO (FINAL) | FILME DO BAIRRO: Haverá espaço para nós?
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GUIÃO (FINAL) | FILME DO BAIRRO: Haverá espaço para nós?

Title: Dogma 35: Haverá espaço para nós?
CREDIT escrito por trinta e cinco
Author: trinta e cinco
Source: história inspirada no filme Idioterne (ou Dogme 2) de Lars Von Trier, 1998
Draft date: abril, 2015
Cast: Ana Marta Saraiva, Mariana Pinhal e Sofia Grilo
Camera: Mafalda Mota

Editing: Mafalda Mota
Contact: fbaul.arcodocego@gmail.com

   

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Aparece imagem como frontispício do filme, do Dogma 95, para fazer referência ao Manifesto em que o filme se insere. 

Segue-se uma imagem com o título do filme, de preferência uma filmagem do nome escrito em algum lugar, à mão.


#1 CAFÉ BARROSÃ
Entra o grupo de idiotas no café, para pedirem ao/à empregado/a, de forma fora do normal, um par de meias, soando convictos de que era ali o sítio certo. Após se aperceberem de que o local é um café, um dos idiotas pede um café, à medida que os outros se vão sentar, em silêncio. 
Ouve-se apenas silêncio na mesa do grupo de idiotas.
Passado um período de tempo, em silêncio (o suficiente para deixar o café esfriar), o grupo de idiotas solta uma gargalhada tremenda, fazendo parecer que a sua loucura atingiu o auge. Depois, como se nada se tivesse passado, abandonam o local, deixando em cima da mesa o dinheiro do café (que acabaram por não beber).


#2 ENTREGA DE JORNAIS
O grupo de idiotas distribui os jornais do bairro pelas pessoas com que se vão cruzando, ao mesmo tempo que emitem sons e fazem movimentos estranhos, quase que obsessivos. 
Este elemento da construção do filme é o único de interação direta com os habitantes ou indivíduos que passem pelo bairro, pelo que o choque será muito mais intenso do que nas outras intervenções. 


#3 RUAS
O grupo de loucos corre e grita ao passar nas ruas das casas, ou então comporta-se obsessivamente entre as casas.


#4 IGREJA
Mostram-se comportamentos obsessivos e loucos nas escadas, desde subir e descer efusivamente a sentar e contar as estátuas ou as pedras que compõem a igreja. 


#5 LICEU
O grupo de idiotas senta-se no recinto em frente ao liceu, apenas. Solta gargalhadas ou gritos de vez em quando, do nada. Podem, eventualmente, levantarem-se e darem uma volta sobre si próprios, e voltarem a sentar-se. 


#6 ESTÁTUAS DE BRONZE
Mostra-se uma euforia tremenda com o espaço do mercado antigo, nomeadamente com as estátuas em bronze pelo que o grupo de loucos dança e grita e explora o espaço, como se fossem crianças de 5 anos outra vez.



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# TEXTO GERAL DA ENTREVISTA

Já se dizia no filme de Lars Von Trier que ser um idiota é um luxo, mas também umPASSO em frente. Os idiotas são um povo do futuro.

Não foi fácil entrar numa personagem que traz tanto choque para a sociedade. Recebemos olhares de desprezo e de desconforto mais do que de tentativa de compreensão. Ouvimos sermões de desconhecidos que nos tentaram diminuir a nós e às nossas atitudes, como se a incapacidade mental que adoptámos não permitisse que vivêssemos entre eles, do mesmo modo, acrescentando se calhar apenas a excentricidade. 

Também não foi fácil lidar com as pessoas. Vivemos num mundo cuja sociedade está de caixa fechada para a libertação artística e tolerância. 

Entrar na pele de um louco pode levar-nos à loucura também. Houve momentos em que nenhuma de nós tinha controlo sobre as ações, estávamos tão mergulhadas na personagem que deixámos apenas as sensações fluir. 

Agora percebo o conceito de marginalizado. Dá para perceber que hoje em dia, o que é diferente é posto de lado. A mentalidade retrógrada do bairro foi o que mais nos marcou. Como a população do Arco do Cego é mais envelhecida, aceita-se que as ideias que partilham o sejam, também, mas ainda assim… Acho que fomos demasiado atacadas com uma indiferença extrema. Isso marcou-nos, eu acho… Foi o que mais nos marcou. O descontrolo não é aceite, a loucura não é aceite. Nós comportámo-nos como verdadeiras idiotas, sim, mas valeu a pena. Pelo menos eu espero que tenha valido a pena. 

Hoje sinto-me diferente, não sei… Vi pelos olhos do lado que não é o meu, o mundo. Não direi que compreendo na totalidade mas acho que vou percebendo o sentimento de solidão que os excêntricos sentem na pele. Nós somos a população do futuro. Só pretendíamos acordar o bairro, ajudar os habitantes a diminuir o descontentamento com que vivem todos os dias. Porque é que um abanão é tão mal visto por eles, então?

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